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Foto do escritorLeonardo Torres

Você se compara com os outros?

Atualizado: 29 de fev.

O ser/estar humano depende de alguns princípios para conceber a realidade. Um destes princípios, muito bem pensado por Ivan Bystrina – estudioso da cultura humana –, é o da comparação.


Quem nunca se comparou com o amigo, irmão, etc? Ou pior, foi comparado pelos pais, tios, primos. Cada um de nós invariavelmente acaba comparando-se e se medindo de diversas formas.





















O ser humano tem problemas com as medidas, com o limite, com as referências, porque simplesmente não existe um padrão, assim como C. G. Jung disse que existe um pé para cada sapato e não há receitas. Para reconhecer o dia e a noite, o alto e o baixo, o bom e o ruim e similares é necessário comparar tais opostos. Isso significa que não existe referências, mas relações. Por exemplo: este material é mais resistente em relação ao outro. Essa pessoa é mais baixa em relação a sua irmã.


É tão significativa a ideia do "estar em relação" que indivíduos que visitam o Deserto do Atacama sofrem com as altas altitudes, enquanto os nativos e moradores não sentem falta de oxigênio pois vivem em constante relação com o lugar. O mesmo acontece quando canadenses viajam para o Brasil, mesmo no inverno, ele sentirá calor.


A referência e a medida do ser humano sempre foi uma grande questão na filosofia. Protágoras com sua frase relativista "o homem é a medida de todas as coisas" trouxe a ideia de que depende mais de quem mede do que da coisa medida. E ainda hoje falamos de antropocentrismo, teocentrismo, midiocentrismo para apontar qual seria a referência.


Muniz Sodré, estudioso da comunicação, mostra que a mídia eletrônica, as redes sociais e os algoritmos, já há dois séculos, galgam pela mente humana e prescrevem referências, indo na contramão da Natureza. Os portais da internet, as propagandas, as celebridades e influencers estão cada vez mais passando receitas de bolo para ganhar dinheiro, emagrecer, entre outras, sem perceberem as consequências para a sociedade.


Quando pontuamos uma referência estamos definindo uma medida certa. E toda medida certa que é apreendida pela televisão, rádio, internet e até dos vizinhos, ou seja, aquela que não é estipulada pelo ego e sua experiência de vida, é híbris – uma desmedida.

A híbris significa tudo o que ultrapassa a medida, o excesso, o descomedimento, a demésure, de acordo com Junito Brandão. Para ele a híbris está ligada ao orgulho, arrebatamento, exaltação. E em oposição a este estado, temos a disposição sadia do espírito, moderação e prudência. É o que Ícaro, da Mitologia Grega nos ensinou: "nem tanto ao mar, nem tanto ao sol". Por isso o Oráculo dos Delfos traz o conheça a ti mesmo.



Dr. Leonardo Torres, pesquisador e psicoterapeuta junguiano.

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