Será que a dor é inevitável e o sofrimento é opcional?
A humanidade está hoje em meio a uma fórmula perigosa que mistura o imediatismo e a objetividade. Um indivíduo que queixa-se de uma dor aqui ou ali vai ao médico e de lá sai com os remédios para que ele seja curado, assim ele pode retomar ao seu cotidiano profissional e familiar. Mas sofrer é diferente. Tanto que muitas vezes indagamos: por que deus permites o sofrimento? Um bom livro sobre o assunto é de Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther.
Após os sintomas sumirem e o indivíduo julgar-se curado é muito importante para este indivíduo retomar de onde ele parou, afinal a queixa não passa de um empecilho para o objetivo maior: ganhar dinheiro, ter estabilidade e, finalmente, ter o seu merecido descanso.
É comum escutar de amigos, conhecidos e clientes muito ligados ao trabalho que suas vidas começarão a partir de tal idade e que neste momento eles somente estão trabalhando para "ganhar a vida". Este "ganhar a vida" está repleto de expectativas: poder, felicidade, amor, etc.
Estas expectativas são alimentadas por anos até que o indivíduo perceba que a felicidade, a estabilidade, o poder e outras ilusões não são como ele esperava que fossem. Como diria Heráclito, a única coisa que não muda é a imutabilidade, isto é, a vida não dá garantias.
Frustrados, alguns dos indivíduos correm para terapias que prometem felicidade, prosperidade, segurança, etc. , ou pior, afogam-se nos "-ismos" para preencher o vazio de suas almas.
Carl Gustav Jung, fundador da psicologia analítica, em toda sua vida, posicionou-se de forma ímpar no que diz respeito à psicoterapia. Para ele, o real objetivo da terapia não é levar o cliente para a felicidade ou eliminar suas dores como um remédio elimina uma dor de cabeça, mas fazer o indivíduo ter uma prontidão e paciência diante do sofrimento para atravessá-lo.
Vale lembrar que "sofrer" é "passar por" e/ou "atravessar".
Isso significa que para o autor não existe método melhor do que fazer o próprio cliente encontrar os instrumentos necessários para atravessar os próprios demônios. Por isso é demasiadamente importante esquecer-se da teoria e da técnica na terapia, e começar a partir da alma humana. Não pode-se esquecer que Héracles, ainda como Alcides, possuiu desde sempre uma clava feita por ele mesmo que o ajudou a enfrentar e atravessar os mais diversos monstros e desafios de seu mito.
Dr. Leonardo Torres, pesquisador e psicoterapeuta junguiano