top of page

Formigas na mente. E agora? Sobre pensamentos negativos

Atualizado: 17 de fev. de 2023


A paixão chegou e é correspondida; o emprego que tanto desejou caiu de lambuja nas mãos. "Ah! A vida está se tornando perfeita!", comentaríamos. A primeira semana no emprego é de aprendizado; já com seu novo amor, fazer o mercado nunca foi tão maravilhoso. O salário caiu e a alegria desabrochou; e, no mesmo dia, seu amor disse "eu te amo" pela primeira vez.


Tudo vai maravilhosamente bem. Até que dentro da sua mente aparece uma formiguinha. Aquelas bem miúdas, fazendo cócegas por onde passa. Achamos até uma graça, mas ao mesmo tempo pensamos "talvez ela não deveria estar ali".





De repente, outra formiguinha, igual a primeira, seguindo aquela que abriu caminho na mente, no mesmo ritmo de passos. Subitamente, aparece a terceira, a quarta, a quinta e quando você percebe, o formigueiro chegou. Em um ritmo maquinal, afinal elas são boas trabalhadoras.


Assim que o formigueiro é instalado, percebemos que cada formiguinha da mente trouxe consigo uma frase, que nela estão embutidos um pensamento, um sentimento e uma emoção. Não qualquer frase, afinal as formigas são ótimas em selecionar coisas.


Existem várias seleções, claro. As mais comuns são: "eu sou fraco e incapaz para esse namoro/trabalho", "Não sou bom o suficiente para meu namorado/trabalho", "Não sou tão forte quanto as outras pessoas". Essas frases acompanham sentimentos e pensamentos que fazem a vítima do formigueiro sentir-se fracassado, criar em si baixa autoestima e descrença em suas habilidades.


Frases mais elaboradas também surgem: "já que eu sou insuficiente para meu parceiro, com certeza ele está me traindo!"; "eu não mereço esse emprego, eu gaguejei na apresentação", e por aí vai as formiguinhas marchando.


Evidentemente, chega o momento delas irem descansar, mas no outro dia elas voltarão com vigor e continuarão a fortificar seu formigueiro na mente. Elas são grandes trabalhadores, sabem que devem trazer muitas frases como as mencionadas acima para se salvaguardarem no inverno. E é isso que acontece, quanto mais elas trabalham em nossas mentes, mais acumularão e mais o indivíduo se isolará no mais frio inverno da vida.


Essa imagem na qual estamos agora é inspirada no termo Automatic Negative Thoughts, isto é, ANTs – formigas em inglês, de Steven D. Hollon e Phillip C. Kendall. Sinteticamente, as formiguinhas são pensamentos negativos que ocorrem de forma automática e frequentemente sem uma base concreta/factual. Eles podem ser desencadeados por estresses, desafios, situações negativas e são parte de nossa personalidade; e tendem a se concentrar em falhas, fracassos e limitações. Esses pensamentos podem ter um impacto significativo na autoestima, saúde mental e relacionamentos, isto é, na vida.


Atenção: não adianta tentar fugir das formigas, elas te encontrarão! Não adiante tentar matá-las. Na realidade, elas apesar de parecerem inimigas, podem ser grandes contribuidoras para reconhecermos quem somos nós. Quem quiser eliminá-las de uma única vez está ainda bebendo do individualismo, do perfeccionismo e do egoísmo.


No entanto, é possível reconhecer e lidar com esses pensamentos negativos automáticos. Sim, chamar as formigas para tomar um café, e se possível, com muito açúcar! Até o ponto no qual C. G. Jung nos escreve: "quem tem a percepção de sua sombra e sua luz, contempla-se a si mesmo de dois lados, e, com isso ocupa o centro.


Na psicologia junguiana, lidar significa questionar e refletir sobre os pensamentos e sentimentos "formiguinhas". Isto é, encontrar evidências que os dissolvam. Vamos lembrar que tudo o que uma formiga não quer é encontrar água pela frente! Exemplo: às vezes desconsideramos um feedback positivo de um parceiro ou de um chefe de trabalhando, achando que a formiguinha que nos fala à mente é mais verdadeira do que o feedback. Por que não questioná-la: "mas então, dona formiga, o meu chefe diz o contrário de ti! E agora?".


Leonardo Torres, analista junguiano cheio de formiguinhas na mente.




Posts recentes

Ver tudo
bottom of page