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Psicologia Analítica de Carl Jung: Conceitos Básicos, História e Diferenças de Abordagens

Atualizado: há 21 horas




A Psicologia Analítica, também conhecida como Psicologia Junguiana ou Psicologia Profunda, foi desenvolvida pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. Esta abordagem terapêutica distingue-se de outras escolas de pensamento por enfatizar a importância dos processos psicológicos inconscientes e da busca pela individuação. Neste artigo, exploro os conceitos básicos, a história e as diferenças entre a Psicologia Analítica e outras escolas de pensamento.


Vale ressaltar que eu não considero nenhuma abordagem melhor ou pior do que outra. Não existe a abordagem terapêutica "ouro" como alguns dizem aos ventos. O que é bom para um, pode ser veneno para outro. Que fique claro.



Conceitos Básicos da Psicologia Analítica

  1. Inconsciente Coletivo: uma das principais contribuições de Jung à psicologia foi a teoria do inconsciente coletivo. Segundo ele, este é uma ambiência/reservatório de experiências humanas compartilhadas e universais que abriga arquétipos, instintos, padrões inatos que influenciam nosso comportamento e pensamento.

  2. Arquétipos: os arquétipos são formas universais da psique que se manifestam como imagens arquetípicas, símbolos e padrões de comportamento. Alguns exemplos incluem a figura materna, o herói e o sábio. Eles são parte integrante do inconsciente coletivo e possuem um profundo impacto no desenvolvimento e na dinâmica psicológica do indivíduo. Eles são numinosos e autônomos. Como diz Jung, o arquétipo impõe-se à consciência quando bem entende.

  3. Complexos: os complexos são um conjunto de experiências associativas. Estão presentes no inconsciente pessoal do indivíduo e possuem raízes arquetípicas. Isto é, todos nós, universalmente, reconhecemos o padrão arquetípico "mãe", mas como vivenciamos e experimentamos a nossa "mãe" pessoal é de uma forma singular. Daí, o conjunto de associações que é feita a partir dessa vivência denominamos de complexo materno.

  4. Individuação: A individuação é o processo de desenvolvimento do indivíduo sob o empuxo do Self (ou si-mesmo), a parte mais profunda e central da personalidade. Esse processo envolve a integração de aspectos conscientes e inconscientes, incluindo a sombra, uma parte oculta da personalidade que abriga traços e sentimentos rejeitados pelo ego. Individuar-se para Jung é a derrota do "eu" em prol da vivência do Self. Lembrando que esta busca não é a da perfeição, mas da completude.

  5. Sincronicidade: A sincronicidade é um conceito proposto por Jung para explicar eventos aparentemente não relacionados que ocorrem simultaneamente e possuem um significado psicológico – seria uma coincidência significativa. Ele argumenta que esses eventos são manifestações do inconsciente que surgem entre o mundo interno e externo, atribuindo um significado ao indivíduo.


Carl Gustav Jung e a História da Psicologia Analítica


Carl Gustav Jung, um dos principais nomes da psicologia, desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da Psicologia Analítica. Sua vida e carreira contribuíram significativamente para a evolução das teorias e práticas da psicologia moderna. Neste texto, relato pontos básicos para conhecermos mais o autor.


A vida de Carl Gustav Jung

Nascido em 26 de julho de 1875, em Kesswil, na Suíça, Carl Gustav Jung cresceu em um ambiente familiar profundamente religioso. Seu pai era protestante e sua mãe tinha habilidades mediúnicas, o que despertou o interesse de Jung pelas ciências humanas e espiritualidade desde cedo. Ambos foram figuras de grande importância para o autor. Podemos conferir esse fato no livro "Memórias, Sonhos e Reflexões".


Jung estudou medicina na Universidade de Basileia e, posteriormente, psiquiatria na Universidade de Zurique. Em 1900, ele começou a trabalhar no Hospital Burghölzli, em Zurique, sob a orientação de Eugen Bleuler, um renomado psiquiatra que mais tarde cunharia o termo "esquizofrenia". Durante esse período, Jung começou a desenvolver suas ideias sobre o inconsciente e a importância dos sonhos.


O encontro com Freud e o início da Psicologia Analítica

O encontro de Jung com Sigmund Freud em 1907 marcou o início de uma colaboração e amizade que duraria anos. Ambos compartilhavam interesse pela teoria do inconsciente e, inicialmente, Jung foi considerado o herdeiro intelectual de Freud. No entanto, as diferenças teóricas e metodológicas entre eles aumentaram, e em 1913, Jung e Freud romperam suas relações profissionais e pessoais. O livro que causou o rompimento foi "Símbolos da Transformação", livro que C. G. Jung defende que a libido não seria somente de qualidade sexual, mas neutra.


A ruptura com Freud impulsionou Jung a desenvolver sua própria abordagem, a Psicologia Analítica. Durante esse período de intensa atividade criativa, ele aprofundou seus estudos sobre religião, mitologia, alquimia e símbolos, explorando o inconsciente coletivo e os arquétipos. Vale lembrar que C. G. Jung, antes mesmo de conhecer Freud, já havia desenvolvido a teoria dos complexos. Os três primeiros livros da Obra Completa já podemos conferir isso.


Para saber mais sugiro a leitura das Cartas de Jung e Freud.


A consolidação da Psicologia Analítica

Jung começou a consolidar a Psicologia Analítica ao longo das décadas de 1920 e 1930. Em 1921, publicou "Tipos Psicológicos", em que introduziu a teoria dos tipos psicológicos, hoje amplamente aplicada nos campos de psicologia, desenvolvimento da personalidade e de forma duvidosa. Durante esse tempo, Jung viajou pelo globo, estudando diferentes culturas e tradições espirituais, enriquecendo suas teorias e contribuições para a psicologia. Jung afirma que quando viajava para conhecer outra cultura, ele não buscava somente reconhecer o outro, mas também o homem branco, cristão e europeu que ele era.


Em 1935, Jung fundou o Instituto C. G. Jung em Zurique, que se tornou um centro de estudos e treinamento para psicólogos analíticos de todo o mundo. Ele continuou a escrever e ensinar até sua morte, em 6 de junho de 1961, em Küsnacht, na Suíça.


A vida e obra de Carl Gustav Jung tiveram um impacto duradouro na psicologia e em outras áreas do conhecimento humano. Sua abordagem inovadora e empírica, que integra religião, mitologia, arte e ciência, tem sido uma fonte de inspiração e orientação para profissionais e pesquisadores ao longo das décadas.


A Psicologia Analítica, com suas ênfases no inconsciente coletivo, arquétipos, individuação e sincronicidade e outros, fornece uma rica compreensão da alma humana e do desenvolvimento da personalidade. Por meio de sua vida, Carl Gustav Jung deixou uma marca indelével na história da psicologia, contribuindo para a expansão das perspectivas e abordagens no estudo e tratamento da psique humana.


Diferenças entre a Psicologia Analítica e outras escolas de pensamento:


Psicologia Analítica e Psicanálise

A Psicologia Analítica e a Psicanálise tem suas raízes na obra de Sigmund Freud, que deu origem à Psicanálise. No entanto, Carl Jung desenvolveu a Psicologia Analítica com base em divergências teóricas e epistemológicas em relação a Freud. Algumas diferenças incluem:

  1. Inconsciente: sinteticamente, a Psicanálise vê o inconsciente como um depósito de desejos reprimidos e impulsos, geralmente de natureza sexual. Já a Psicologia Analítica propõe o conceito de inconsciente coletivo, que contém arquétipos universais e experiências compartilhadas pela humanidade.

  2. Sonhos: A Psicanálise adota uma visão redutiva ao interpretar um sonho. Normalmente, pergunta-se "por que você sonhos isto? Qual a verdade por trás do sonho?" Já, para Jung, o melhor seria perguntar: "para quê você viu este sonho? Ele, mesmo sendo ilógico, quer te dizer algo, o que é?".

Psicologia Analítica e Behaviorismo

O Behaviorismo é uma escola de pensamento fundada por John Watson, focada no estudo do comportamento observável. Algumas diferenças entre a Psicologia Analítica e o Behaviorismo incluem:

  1. Foco: o Behaviorismo concentra-se exclusivamente no comportamento observável e mensurável, enquanto a Psicologia Analítica enfatiza os processos inconscientes e simbólicos que influenciam o comportamento e a experiência humanos.

  2. Métodos: o Behaviorismo utiliza métodos experimentais rigorosos e quantitativos, enquanto a Psicologia Analítica se baseia em métodos mais qualitativos, como a análise de sonhos, mitos e símbolos.

Psicologia Analítica e Gestalt

A Gestalt é uma abordagem da psicologia que se concentra na percepção e na experiência holística. Algumas diferenças entre a Psicologia Analítica e a Gestalt incluem:

  1. Perspectiva: a Gestalt enfoca a experiência imediata e a percepção holística, enquanto a Psicologia Analítica enfatiza os processos inconscientes e arquetípicos.

  2. Terapia: a terapia Gestalt utiliza técnicas para aumentar a consciência e a integração do indivíduo, enquanto a terapia junguiana busca integrar aspectos do inconsciente para promover a função transcendente.


Psicologia Analítica e Psicologia Humanista

  1. Visão de ser humano: embora ambas as abordagens valorizem o potencial humano, a Psicologia Analítica enfoca a integração do inconsciente e do self, enquanto a Psicologia Humanista enfatiza a autorrealização.

  2. Terapia: a terapia humanista é centrada no cliente, buscando criar um ambiente de aceitação e empatia que permita o crescimento pessoal. A terapia junguiana, por outro lado, foca na análise e integração de aspectos inconscientes, como sonhos, arquétipos e a sombra, o que pode causar estranhamento e confrontos diversos.


A Psicologia Analítica de Carl Jung se diferencia das outras escolas de pensamento em várias maneiras, principalmente no seu foco no inconsciente coletivo, arquétipos e individuação. Embora compartilhe algumas semelhanças com a Psicologia Humanista no que diz respeito ao potencial humano, ela se distancia de outras abordagens, como a Psicanálise, o Behaviorismo e a Gestalt, em seus objetivos, métodos e conceitos fundamentais. Compreender as diferenças entre essas escolas de pensamento é essencial para uma apreciação mais completa das diversas abordagens e perspectivas que compõem o campo da psicologia. Evidentemente, não fiz justiça às outras abordagens com estas poucas palavras. Meu intuito era somente diferenciá-las ao menos um pouco.


Leonardo Torres, analista junguiano.



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