Uma das maiores contribuições de Carl Gustav Jung, fundador da psicologia analítica, não está em sua obra completa, mas no livro "O Segredo da Flor de Ouro" no momento em que o autor pontua sobre o Monoteísmo da Consciência, o que se pode entender também como um Monoteísmo do Ego. Um grande fundamento para entedermos o que é a psicologia analítica junguiana.
Viver em um Monoteísmo Egóico é ser/estar na physis, na sociedade e nas cidades unicamente por meio do "eu" e de sua lógica caduca que quer encontrar uma justificativa para tudo e todos. Não à toa o D.I.Y (Do it Yourself) e o Self Made Man são demasiadamente promovidos mudialmente pelos hollywoodianos e pelos Youtubers e afins.
E pior: muitos profissionais da psicoterapia já defendem que o "eu" deve controlar suas emoções e complexos para triunfar na vida. Grande erro.
Esqueceu-se de todos os deuses que nos habitam. Bem como C. Jung aponta, o indivíduo moderno transformou os deuses em doenças. Ou seja, os próprios deuses antigos aparecem somente de forma sombria. Pan tornou-se a síndrome do pânico; Ananke virou a ansiedade; Vênus somente pelas doenças venéreas e etc. Afinal, se a luz está focada em um monoteísmo racionalista do ego, como haveria de se simbolizar o politeísmo da psique?
Pode-se refletir que filo e ontogeneticamente o "eu" e seu racionalismo é o caçula da psique. Depreendendo do desenvolvimento da consciência de Erich Neumann, é correto pontuar que qualquer ser humano nasce sem um "eu" – sim, o que você chama de "eu" não era você quando nasceu. O "eu" é um complexo (assim como qualquer outro) que surge por volta de 2 a 3 anos de idade em um indivíduo.
Antes do "eu" nascer, cada indivíduo é herdeiro da imensidão do Inconsciente Coletivo e há a formação de complexos como o materno e o paterno. Neste último caso, muitos autores apontam para um Incosciente Familiar ou os Complexos Familiares. Nos três primeiros livros das Obras Completas C. Jung chamou também de constelação de complexo familiar e demonstrou como uma filha é contagiada pela mãe.
O "eu" nasce com a função de ser o centro da consciência e a testemunha do inconsciente. Contudo, parece que ele esqueceu-se deste último e proclamou-se o rei e deus da psique.
Aqui a enantiodromia também ocorre: se o "eu" acredita em demasia ser o centro, o rei e o deus, haverá momentos que ele tornar-se-á descentralizado, o súdito e o verme, deixando potencias arcaicas como a síndrome do pânico emergir ou então um complexo dominar.
É necessário chegar aos pantanais da alma e conversar com seus demônios e deuses para chegar em acordos. Acordos acordam.
Na contemporaneidade ocorreu na Alemanha Nazista, nas eleições brasileiras passadas e ainda ocorrerá sem dúvidas. E o fim dessa história sabe-se muito bem: é aquela frase "onde eu estava com a cabeça" que deveria ser "onde o "eu" estava na cabeça (psique)?".
Dr. Leonardo Torres, palestrante e psicoterapeuta junguiano.
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