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Foto do escritorLeonardo Torres

Duas atitudes de vida: ser mosca e ser abelha?

O sol levanta, o despertador toca e lá vamos nós novamente para o nosso cotidiano. Aquela espreguiçada é ótima para acordar o corpo. A partir daí, o relógio do dia começa a seguir, maquinalmente. Assim como o ponteiro faz a mesma volta fatídica, nós também acabamos por seguir com nossos automatismos, retornando aos mesmos afetos, raciocínios, entre outros.


As preocupações do trabalho chegam, delírios de uma futura demissão bate à porta. O namorado ou a namorada não mandou mensagem de bom dia. "Será que ele me ama?"; "onde ele está? o que está fazendo?". O gato espirra e já pensamos em uma possível pneumonia. A foto postada na rede me afeta porque meus dois amigos saíram sem mim: "será que eu tenho amigos de verdade?"


Mal o relógio da parede deu uma volta e nós já demos cinquenta voltas em torno do sol com nossas mentes. Não porque tudo o que foi pensado aconteceu, mas porque nós, seres humanos, tendemos, naturalmente, a pensar sempre em cenários negativos de futuro, a fim de garantir e antecipar o sofrimento, antecipando uma possível resolução. O fato é que muito do que fantasiamos, não acontece.


Esse caminho automático de buscar a m*rda é comum. É uma atitude de vida que, sem consciência, acabamos por seguir facilmente. Sobre isso, as moscas já fazem esse caminho há milhões de anos. Elas são grandes recicladoras da natureza. Porém, nós humanos, superamos esses seres alados e buscamos as m*rdas futuras!


Muitos de nós, presos nesse automatismo, buscamos a m*rda, comemos m*rda e defecamos a m*rda e comemos de novo – é um ciclo infinito. Pois, assim que já defecamos já temos o alimento fresquinho. Diferente das moscas, nós buscamos tanta m*rda que não existe tempo hábil para as reciclagens, aliás, não existe nem matéria prima para isso, já que toda essa montanha de m*rda é uma antecipação.


Seria mais fácil não procurar a m*rda, afinal, as m*rdas da vida, querendo ou não, caem sobre nossas cabeças numa quarta-feira à tarde, subitamente, no momento em que nos damos o direito de relaxar um pouco. Essas, ao contrário das supracitadas, são menos ilusórias. E, sim, fazendo o papel de mosca, deveríamos reciclá-las, isto é, refletir, levar para terapia, em prol de uma solução.


Outro inseto tão importante quanto a mosca nos habita: a abelha – a grande produtora de mel! Isso, simbolicamente, o elixir dos deuses. O processo de produção do mel envolve várias etapas e ocorre nas colmeias, onde as abelhas vivem e trabalham. A primeira coisa que uma abelha melífera faz é a coleta de néctar! Elas voam de flor em flor coletando néctar, que é uma substância açucarada produzida pelas plantas. Elas usam sua língua, chamada de probóscide, para sugar o néctar das flores.


Aqui já percebemos que deixar de buscar a m*rda para produzir o mel é mais dificultoso, pois esse processo demanda de uma prontidão e de uma determinação do indivíduo, seja da abelha, seja do ser humano. Já, na atitude "mosca" está tudo pronto. Isto é, no começo não é automático igual a m*rda, precisamos daquilo que se chama consciência!


Assim como as moscas, existe uma ingestão do produto, o néctar coletado é armazenado no "estômago de mel" das abelhas, um órgão especializado separado de seu estômago regular. O néctar é então misturado com enzimas produzidas pelas abelhas, que começam a transformar o açúcar complexo do néctar em açúcares mais simples. E então, o processo de produção do mel começa dentro da colmeia.


O mel desempenha um papel crucial na vida das abelhas dentro de uma colmeia. Ele serve como uma fonte de energia e alimento essencial para as abelhas, especialmente durante os períodos em que as flores não estão disponíveis e o néctar é escasso, como nos meses de inverno. Além de fornecer energia e alimento, o mel também possui algumas propriedades antibacterianas, que podem ajudar a manter a colmeia limpa e proteger as abelhas de infecções. Essas propriedades também beneficiam os humanos, que usam o mel como adoçante natural e remédio tradicional.


O mel psíquico aqui é o que está em foco. Quando nos policiamos diante da atitude de buscar as m*rdas e começamos a tentar encontrar néctar e produzir mel, estamos agindo não somente em prol de nós mesmos como em prol da comunidade, da sociedade, da diversidade e da alteridade.


O símbolo do mel é diverso. Como vemos:


Fertilidade e reprodução: em várias culturas, o mel é associado à fertilidade e ao amor, sendo frequentemente usado em cerimônias matrimoniais e rituais de fertilidade. Na tradição judaica, por exemplo, o mel é servido com maçãs durante o Rosh Hashanah, o Ano Novo Judaico, para simbolizar o desejo de um ano doce e frutífero.


Saúde e cura: o mel tem propriedades antibacterianas e anti-inflamatórias, sendo utilizado como remédio natural em diversas culturas. No antigo Egito, por exemplo, o mel era usado no tratamento de feridas e como ingrediente em poções medicinais.


Imortalidade e vida após a morte: o mel tem sido relacionado à imortalidade em várias mitologias e tradições espirituais, devido à sua longa durabilidade e preservação. No antigo Egito, o mel era usado na preparação do corpo para a mumificação e como oferenda aos deuses.


Sabedoria e conhecimento: em algumas tradições, o mel representa sabedoria e conhecimento, por ser produzido pelas abelhas, que são símbolos de diligência e trabalho em equipe. Na mitologia grega, o néctar e a ambrosia, frequentemente associados ao mel, eram alimentos dos deuses, conferindo-lhes imortalidade e sabedoria.


Abundância e prosperidade: devido à sua doçura e ao trabalho envolvido na produção do mel, ele também simboliza abundância e prosperidade. Em algumas culturas, presentear alguém com mel é um desejo de sorte e prosperidade.


União e harmonia: As abelhas trabalham juntas em harmonia para produzir o mel, tornando-o um símbolo de cooperação e união.


Aqui não quero defender uma ou outra atitude de vida. Afinal, precisamos ser moscas para reciclar as verdadeiras m*rdas que nos chegam. Reciclando elas, teremos um belo de um adubo para assim fazer as plantas cresceram, florescerem e, então, buscarmos o néctar para produzir o mel. Ou seja, minha proposta é ser mosca e abelha na medida certa! Uma não vive sem a outra.


Leonardo Torres, analista junguiano.







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