Minha prática clínica é, em sua maioria, pautada pela análise de sonhos à luz da psicologia analítica, de Carl Gustav Jung. Com mais de 5 mil sonhos analisados, todo dia me surpreendo com a beleza e a vida simbólica de cada um deles. Não importa se a pessoa sonha que está adquirindo uma lava e seca ou então viajando de táxi para admirar a aurora boreal, que no caso não é verde, mas rosa choque.
Possuo cadernos e mais cadernos de sonhos anotados e, revisitando-os, percebo o quanto os sonhos são importantes. Eles ensinam, direcionam, estimulam, provocam e acalentam. Pena que hoje não temos dado valor a eles. Dormimos pouco e acordamos em um pulo, dominados pelo ritmo megalomaníaco do nosso sistema meritocrático liberal capitalista. As pesquisas mais recentes mostram que o ser humano global tem dormido duas horas a menos do que deveríamos. Aquela frase "se meu concorrente acorda às 6h, eu acordarei às 5h" não "cola" para a psicologia e para a neurociência. Dormir menos significa menos sonos e sonhos profundos, menos homeostase psíquica e fisiológica e, portanto, menos harmonia e saúde para o indivíduo.
Voltando aos sonhos, C. Jung nos ensinou sobre o método sintético da análise dos sonhos, diferente do método causal de S. Freud. Nós não interpretamos, mas ampliamos os sonhos. Isto é, continuamos na fantasia para que ela per se cumpra o seu papel. Dificilmente vamos aos dicionários ou tentamos entender se a máquina lava e seca representa algo por trás. Confiamos, na realidade, que o inconsciente não escolheu essa imagem à toa. É ela e mais nenhuma outra que nos ensinará algo.
No entanto, não estou aqui para discorrer sobre o método de C. Jung que já está demasiada e claramente exposto nas Obras Completas. Estou aqui para sugerir uma pergunta que tenho feito para os meus clientes e tenho percebido grandes ampliações a partir dela: "como o sonho te sonhou?". Essa pergunta é importante pois, muitas vezes, ficamos presos à interpretação simbólica do que acontece ao redor do ego onírico e esquecemos que o ouro não é encontrado na significação da imagem do sonho, mas na relação das imagens oníricas com o ego onírico. Isto é, acabamos, portanto, sendo fiéis a ideia de Carl Jung e James Hillman: "nós não sonhamos, nós somos sonhados".
"Como o sonho te sonhou?" faz o sonhador olhar para o ego onírico e perceber algumas diferenças entre este e o ego desperto, o que pode gerar uma tensão de opostos. "Para que sou sonhado dessa forma?", já me perguntaram. Eu não pude responder, mas pude devolver a pergunta! Muitas vezes clientes que ocupam grandes cargos no mercado de trabalho são sonhados pelos seus sonhos em uma posição de pequeneza; ou também aqueles que sentem-se inferiores aos outros são sonhados expressando força bruta ou possuindo o poder de voar. Claro que aqui estou sendo reducionista, mas quero frisar a ideia de que devemos também focar em quem é o ego onírico no sonho, como foi a relação deste com as imagens a ele apresentadas.
Leonardo Torres, analista junguiano
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