Trecho retirado do Vol. 3 de C. G. Jung Cartas:
À Baronesa Vera von der Heydt
Prezada e digna senhora,
Minha observação sobre a ressurreição é simples alusão a uma espécie de fraseologia popular que soa assim: por sua ressurreição, Cristo nos demonstrou de certa forma que também nós ressuscitaremos. E assim nos mostrou que a esperança na imortalidade é uma crença justificada – como se ninguém tivesse acreditado na imortalidade anteriormente.
Isto é com certeza um ponto de vista leigo, que se pode facilmente derrubar com argumentos teológicos. Mas é por isso mesmo que ela persiste entre o povo. [...] Também é opinião apenas local que se dê aos discípulos uma prova ocular da existência do Senhor. Isto é correto no sentido bíblico do texto, mas não corresponde de forma alguma ao ponto de vista em geral.
Como psicólogos não nos ocupamos com a questão da verdade, se uma coisa é historicamente correta, mas com forças vitais, com opiniões vivas, que determinam o comportamento humano. Se estas opiniões são falsas ou verdadeiras, isto é outro assunto.
Um crítico, por exemplo, me acusou de ter escolhido um texto menos importante, como o Amitayur-Dhyana-Sutra, pois haveria textos páli muito melhores para explicar a essência do budismo. Mas, no Japão e nas regiões budistas da Mongólia, esta sutra goza da mais alta autoridade e é muito mais conhecido do que o Cânon-páli. Por isso achei mais importante comentar esta sutra do que a posição, sem discuti-la na sua forma atual, só podemos fazê-lo tomando as opiniões em vigor, e não na base das melhores edições críticas dos textos e das melhores explicações teológicas, porque, neste caso, estaríamos fazendo teologia, e isto eu não faço de forma nenhuma. Estou interessado na pessoa humana real, aqui e agora, exatamente num artigo meu como Presente e Futuro.
Com saudações cordiais e elevada consideração,
Sinceramente seu,
C. G. Jung.
Referências:
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