Leonardo Torres
18 de set de 20212 min
Atualizado: 14 de out de 2023
Há muito tempo atrás o jovem C. G. Jung, fundador da psicologia analítica, fazia uma brincadeira mental muito interessante, sentado sobre uma pedra refletia: eu sou a pedra, a pedra sou eu; quem é este ser na pedra, quem é esta no ser?
Esta brincadeira faz questionar o que é a subjetividade, o que é o "eu", o que é este ser com nome, sobrenome, identidade e bilhões de outros rótulos que se quer dar. Muitas vezes, este fenômeno idiossincrático, ou seja, único no espaço e tempo é considerado o ser mais profundo possível.
Aquela famosa frase "lá no fundo, lá no fundo você é de tal forma", que é muito dita principalmente quando alguém apaixonado cria expectativas sobre a sua paixão, e acaba por projetar o próprio "ser lá do fundo".
Estas breves elucidações fazem lembrar do Livro Vermelho – obra considerada a maior produção de C. G. Jung, fundador da psicologia analítica, por alguns autores pós-junguianos, como James Hillman e Sonu Shamdasani.
Curiosa e inversamente ao senso comum e também à muitas outras psicologias, o que C. G. Jung encontrou nas profundezas não foi o seu "eu", a sua idiossincrasia ou a sua subjetividade.
As profundezas da humanidade à luz das empreitadas de C. G. Jung não são separatistas ou segregadoras. Não existem divisões, limites ou muros. A profundeza é o comum que nos habita e o qual habitamos, ou melhor, é o coletivo. Este conceito é basilar para começarmos a entender o que é a psicologia analítica.
Com certeza é um ambiente que não conforta o "eu" ou o ego, afinal ele precisa diferenciar-se para sobreviver. Infelizmente, o ego infantilizado, diante da ideia de ser humano individual, tenta se encaixar no rótulo do individualista, gerando os mais crassos e diversos preconceitos.
Quem chega perto, com prontidão para compreender as profundezas, acaba por arrepiar-se com o vento e o aroma deste comum da alma. Este ser nunca mais será o mesmo.
Este passará a compreender um pouco melhor a alma humana e por isso mesmo seus antigos julgamentos moralistas e separatistas diminuirão e a busca pelo amor aumentará. Por isso mesmo, quando este compreender isto, ele saberá diferenciar-se tornando ainda mais a sua idiossincrasia, enantiodromicamente.