Leonardo Torres
3 de abr de 20233 min
Atualizado: fev 26
Muito tem-se falado de Carl Gustav Jung e sua teoria dos arquétipos e do inconsciente coletivo, isto é, padrões universais compartilhados por todas as culturas e civilizações. No entanto, é importante salientar que, segundo sua teoria, a "ativação" dos arquétipos é um processo que não pode ser manipulado diretamente. Por vezes, Carl Jung utiliza o termo "ativação", mas não se referindo ao ego como um agente da ativação. Afinal, como ele afirma: o arquétipo impõe-se.
Os arquétipos, de acordo com Carl Gustav Jung, são formas, estruturas psíquicas inatas de experiências humanas, que se manifestam por meio de símbolos, mitos e histórias, isto é, representações arquetípicas. Aquilo que é manifesto, portanto, não é o arquétipo em si, mas uma imagem manifesta.
É importante esclarecer que Carl Jung não considerava possível "ativar" arquétipos de maneira deliberada, intencional ou consciente. Em vez disso, os arquétipos emergem de forma espontânea do inconsciente coletivo, moldando e influenciando a experiência e o comportamento humano.
Todas essas formas de manifestação demandam de um rebaixamento da consciência para que o inconsciente coletivo possa adentrá-la, totalmente diferente do que estão praguejando nas redes sociais: "concentre-se nas características da imagem que você baixou do pinterest!".
Para Jung, portanto, é impossível somente a consciência criar um símbolo (uma representação arquetípica); o processo se dá quando há um encontro entre inconsciente emergindo e a permeabilidade da consciência. Ou seja, a relação entre essas instâncias, é de suma importância.
Além disso, os arquétipos existem e não existem e não podem ser reduzidos a representações concretas ou simplistas. Eles são multifacetados e se manifestam de diferentes formas em diferentes culturas e indivíduos. O arquétipos não são nem bons, nem maus, são ambos; não são nem morais, nem imorais, são ambos e nada disso.
A tentativa de ativar ou manipular um arquétipo de forma direta e consciente pode resultar em uma compreensão limitada e estereotipada, ignorando a riqueza e a complexidade das experiências humanas que os arquétipos representam para a teoria junguiana.
É essencial reconhecer que o trabalho de Carl Gustav Jung com os arquétipos e o inconsciente coletivo não se baseava na ideia de que os arquétipos podem ser ativados ou controlados. Em vez disso, ele enfatizava a importância de explorar e compreender a psique humana, incluindo os padrões arquetípicos e o inconsciente coletivo, através do processo de individuação.
Esse processo envolve o reconhecimento e a integração das várias facetas da personalidade, incluindo aspectos conscientes e inconscientes, a fim de alcançar uma maior harmonia e autocompreensão.
Em síntese, a impossibilidade de ativar arquétipos de forma consciente é uma consequência da natureza inerente do inconsciente coletivo e dos próprios arquétipos, que são inacessíveis ao controle racional e voluntário. Ao invés de buscar ativar arquétipos para tornarmos-nos ricos e poderosos, poderíamos começar, primeiro, indo lavar a louça de casa.
Leonardo Torres, analista junguiano.